sábado, 10 de setembro de 2016

Por que precisamos da Bel Pesce, do Ulisses e do Super homem?


O caso mais recente da mídia (e o motivo de eu escrever esse texto) é a Bel Pesci, uma menina que se criou como heróina para o brasil. Formada na MIT, Pesce supostamente fundou a empresa americana Lemon, que tempos depois foi vendida por milhões. Já aqui no Brasil ela possui mais quatro empresas: a FazInova, a Enkla Editora, a Agência de Figurinhas e BeDream. Ela era a nova queridinha da mídia, a prodígio brasileira, a guru do empreendorismo.
Mas só havia um probleminha, quer dizer, vários.


Em seu post, Izzy Nobre investiga o diploma da garota, para então chegar a uma triste conclusão, ela só é tão grande quanto acreditamos que ela seja. A maioria das informações lá são vagas ou sem nenhuma confirmação. E a maioria de seus novos empreendimentos perdem o sentido, já que são apoiados na sua figura genial.


Porém não vamos nos restringir a esse caso em específico e sim a uma maior análise do que nos leva tão leviamente a crer em inúmeros messias. Mesmo quando a fila de salvadores continua, um a um, a nos decepcionar.


Tenho certeza que você alguma vez em uma madrugada sem sono teve o tempo e o silêncio necessário para pensar além das trivialidades daquele dia. Daí você devaneiou por um monte de coisas até chegar em um ponto agoniante: A percepção de sua própria insignificância e das banalidades de suas preocupações diante da inevitável porém vagarosa morte.


Não se apavore (e nem ache que este texto saiu do proposto, no final ele se encontra).


Analogamente, foram isso que os gregos fizeram ao longo de muitos anos. No estudo de tudo que havia no universo, dúvidas excruciantes permaneciam sem nada próximo de uma resposta, questionamentos nas linhas de: Por que estamos aqui, de que servimos e qual o sentido de tudo isso?


Não ajuda que o constante lembrete da morte nos faz parecer mais frágil do que gostaríamos de acreditar. Desde então - dos gregos, até você com insônia - começou-se uma busca por nos tornamos algo maior do que realmente somos, e isso só seria alcançado com a superação de nosso maior defeito, a mortalidade.


Dado que biologicamente ainda não foi possível tal feito, os esforços sempre se voltaram para o sentido mais filosófico da coisa e isto é, a imortalidade através de um legado. Nessa corrente de pensamento que nasce a figura do herói.


E sobre o herói, não há como botar em palavras melhores que Jean-Pierre Vernant, em seu livro “Mito e pensamento entre os gregos”:


“Ele figura, de certo modo, o ato em estado exemplar, o ato que cria, que inaugura, que inicia (herói civilizador, inventor, fundador de cidades ou linhagens, iniciador), ato enfim que transcende a condição humana e, como um rio que sobe até a sua fonte, vem juntar-se a força e vence a morte.”

O herói assim como nós, não é isento de falhas. E isto é um ponto importante de sua figura, pois ele nasce para nos inspirar a sermos melhores. Um herói enfrenta uma jornada que o desafia; que o faz duvidar de si; mas que mesmo assim, com uma teimosia sobre-humana (vezes aliadas à habilidades de tais níveis) vence a todos os desafios, para por fim conquistar seu legado. Logo não poderia ser diferente: A figura nobre do herói; tanto para crianças quanto para adultos; é fascinante, pois é conectável.

(tem legendinha)

Mas aqui chegamos ao ponto chave deste texto: Enquanto é bastante compreensível inserir tais mártires em odisséias gregas e páginas de quadrinhos, é são esperá-los na vida real?

Certo, damos medalhas à aqueles que arriscam suas vidas em prol de outras e entregamos prêmios nobéis à aqueles que dedicam tempo e esforço ao avanço do conhecimento. Não estou dizendo que não existam pessoas extraordinárias fazendo coisas incríveis, tampouco que essas pessoas não merecem reconhecimento.

Mas não muito dificilmente nos surpreendemos com notícias no nosso feed que, de uma forma ou de outra, mancham a imagem de alguém que outrora era considerado um herói por boa parte da população. A internet então se divide entre os apoiadores nostálgicos e os atacadores na linha de “eu sempre soube”. E esse evento só ocorre por que há um esforço em manter aquela ilusão por que, obviamente, temos a mania de criá-la em primeiro lugar.

Falando em ilusões inventadas, Bel Pesci não é a primeira delas e muito dificilmente será a última.

Por fim, chegou a hora de avaliarmos se uma sociedade que se baseia em heróis, não se baseia também, em mentiras.


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